#ecosdopassado


Testemunhos materiais do “salto”, objetos e documentos que contam a história do exílio português na Europa.






︎#documentosdoexilio


Cartão Internacional de Estudante (1973) © Carlos Sousa Neves
“Com cartões Civitas Academica falsificaram-se anos letivos para se conseguir a Carte d’Identité International d’Étudiant”, contou Carlos Sousa Neves.

Com os cartões Civitas Academica, os exilados portugueses solicitavam a emissão oficial do Cartão Internacional de Estudante que lhes permitia viajar legalmente entre o BeNeLux – Bélgica, Holanda e Luxemburgo – e para outros destinos europeus, como França e a Dinamarca. As deslocações e os contactos entre portugueses exilados em diferentes países tornaram-se mais fáceis.











︎#documentosdoexilio


Boletim Deserção (1972-1974) © Rui Mota


O Boletim Deserção foi publicado pelo Comité de Refugiados Portugueses na Holanda (sediado em Amesterdão), conhecido vulgarmente como Comité de Desertores. Foi publicado entre agosto de 1972 e outubro de 1974, num total de 9 números e com uma tiragem aproximada de 500 exemplares. Pretendia apoiar e defender os direitos dos desertores que chegavam ao país, assim como a oposição e a resistência em Portugal. Tinha ainda como objetivo a denúncia da guerra colonial e o apoio aos movimentos de libertação das colónias, reconhecidos pela Organização da Unidade Africana. Era distribuído gratuitamente junto dos imigrantes portugueses na Holanda.












︎#documentosdoexilio


Pedido de asilo por motivos políticos ao governo dinamarquês (1970) © Joaquim Saraiva


“Isto era um documento de esperança”

Para requerer o estatuto, os exilados políticos tinham que declarar ter deixado o seu país por motivos políticos e confirmar o fim de qualquer contacto com organismos oficiais portugueses tutelados pelo regime em vigor.
Como refere Joaquim Saraiva, signatário deste documento junto do Estado dinamarquês, a sua aprovação era essencial para não ser entregue às mãos da polícia política portuguesa: “seria muito complicado se o pedido de asilo fosse recusado. O que nos ia suceder?”








︎#livrosdoexilio

“Estes textos eram a nossa base de aprendizagem, de discussão, de troca de ideias e de como analisávamos a situação no comité de desertores, na célula ou em casa quando reuníamos um grupo mais próximo.”  (Joaquim Saraiva, ex-exilado português na Dinamarca).












︎#discosdoexilio


Foi a partir dos anos 60 que a canção popular de resistência – canto de intervenção - assumiu um papel artisticamente preponderante na luta contra o fascismo em Portugal.

A partir da coleção de discos de Carlos Neves, preparámos ︎︎︎uma pequena playlist de músicas de resistência.












︎#discosdoexilio

"Brasil, Sertão e Favelas" de Zélia Barbosa. 


No Brasil, onde também se vivia uma ditadura, Zélia Barbosa, o movimento de Música Popular Brasileira (MPB) e o movimento Tropicália utilizam a música como arma de luta contra os apertos à liberdade de expressão instaurados no país. Carlos Sousa Neves, ex-exilado na Holanda e membro da Associação de Exilados Políticos Portugueses (AEP61-74) possui este exemplar, lançado em 1967.

︎︎︎ Oiça aqui o disco na integra






︎#discosdoexilio

“Havia um intercâmbio e uma solidariedade entre nós, tudo era comum”.


Este disco pertence a Joaquim Saraiva, ex-exilado político português na Dinamarca. Contém a gravação ao vivo de “Venceremos" de Inti Illimani e “El Pueblo Unido" de Quinteto Tiempo, Agitprop e Oktoberklub Berlin, tocadas no Festival de Músicas Políticas durante o 10º Festival Mundial de Juventude e Estudantes em Berlim Oriental, na Alemanha de Leste, em 1973. Fazia parte de um espólio pessoal e militante que se partilhava como tantas outras coisas que amenizavam o quotidiano no exílio: “normalmente nós lá quando tínhamos livros ou discos faziam parte da comunidade”.
















︎#objectosdoexilio


Gravador de cassetes Philips © Joaquim Saraiva

“A história principal que este gravador tem foi a gravação de uma festa.”

“Este gravador foi comprado em 1971 em Aarhus [Dinamarca]. Isto e o gira-discos eram a minha companhia quando estava em casa, a ouvir música. Servia também para fazer gravações. Muitas vezes nós juntávamos assim um grupo em minha casa ou em casa de outro e tocávamos viola e entretínhamo-nos a fazer gravações”.      
Como recorda Joaquim Saraiva, o seu proprietário, este gravador tem uma história particular porque gravou o espetáculo que o Grupo de Teatro Operário de Paris, juntamente com o músico Tino Flores e os Camaradas, deram em Malmo na Suécia. Gravada em 1973, a cassete conseguiu resistir até hoje.



© Alexandre Almeida
© Alexandre Almeida






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Lençóis do Hotel Hilton de Amesterdão © Carlos Neves


“Eles tinham muitos e eu, e muitos camaradas precisávamos. Dormíamos em tons de amarelo”.

O último emprego de Carlos Sousa Neves como exilado português na Dinamarca foi no hotel Hilton, onde trabalhou como bagageiro, segurança, engraxador e auxiliar de cozinha. “A qualidade de segurança foi realmente o que deu mais rendimento ao Comité de Desertores. Eles foram pôr a raposa no galinheiro, não é? Daquelas portas, que deveriam estar fechadas, saíam peças de carne, saíam mesas, saíam cadeiras, máquinas de escrever, e lençóis”.


© Alexandre Almeida
© Alexandre Almeida